domingo, 15 de março de 2009

Racismo no Brasil? Não existe! Pergunte a Luis Fernando Veríssimo

Escuta aqui, ó criolo…- O que foi?- Você andou dizendo por aí que no Brasil existe racismo.- E não existe?- Isso é negrice sua. E eu que sempre te considerei um negro de alma branca… É, não adianta. Negro quando não faz na entrada…- Mas aqui existe racismo.- Existe nada. Vocês têm toda a liberdade, têm tudo o que gostam. Têm carnaval, têm futebol, têm melancia… E emprego é o que não falta. Lá em casa, por exemplo, estão precisando de empregada. Pra ser lixeiro, pra abrir buraco, ninguém se habilita.Agora, pra uma cachacinha e um baile estão sempre prontos. Raça de safados! E ainda se queixam!- Eu insisto, aqui tem racismo.- Então prova, Beiçola. Prova. Eu alguma vez te virei a cara? Naquela vez que te encontrei conversando com a minha irmã, não te pedi com toda a educação que não aparecesse mais na nossa rua? Hein, tição? Quem apanhou de toda a família foi a minha irmã. Vais dizer que nós temos preconceito contra branco?- Não, mas…- Eu expliquei lá em casa que você não fez por mal, que não tinha confundido a menina com alguma empregadoza de cabelo ruim, não, que foi só um engano porque negro é burro mesmo. Fui teu amigão. Isso é racismo?- Eu sei, mas…- Onde é que está o racismo, então? Fala, Macaco.- É que outro dia eu quis entrar de sócio num clube e não me deixaram.- Bom, mas pera um pouquinho. Aí também já é demais. Vocês não têm clubes de vocês? Vão querer entrar nos nossos também? Pera um pouquinho.- Mas isso é racismo.- Racismo coisa nenhuma! Racismo é quando a gente faz diferença entre as pessoas por causa da cor da pele, como nos Estados Unidos. É uma coisa completamente diferente. Nós estamos falando do crioléu começar a freqüentar clube de branco, assim sem mais nem menos. Nadar na mesma piscina e tudo.- Sim, mas…- Não senhor. Eu, por acaso, quero entrar nos clubes de vocês? Deus me livre.- Pois é, mas…- Não, tem paciência. Eu não faço diferença entre negro e branco, pra mim é tudo igual. Agora, eles lá e eu aqui. Quer dizer, há um limite.- Pois então. O …- Você precisa aprender qual é o seu lugar, só isso.- Mas…- E digo mais. É por isso que não existe racismo no Brasil. Porque aqui o negro conhece o lugar dele.- É, mas…- E enquanto o negro conhecer o lugar dele, nunca vai haver racismo no Brasil. Está entendendo? Nunca. Aqui existe o diálogo.- Sim, mas…- E agora chega, você está ficando impertinente. Bate um samba aí que é isso que tu faz bem.

Luís Fernando Veríssimo

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